Missão China - 6/20
#Palácio do Sol, Pequim, 20:30#
Cho Chang andava de uma lado para outro em seu escritório. Tinha muito a que planejar. Em poucos dias, daria uma grande festa no palácio. Muitas pessoas importantes viriam: acionistas, políticos, algumas das pessoas mais ricas do planeta compareceriam. Metade dos convidados seria composta de seus sócios. A outra metade, sócios de seu irmão.
Pegou uma velha fotografia sobre a mesa. Nela, estava sua família: pai, mãe, seu irmão e ela própria. Todos estavam sérios. Realmente, não tinham muitos motivos para sorrir naquela época...
*Flashback*
#17 anos atrás#
Cho estava se arrumando para tirar a foto. Pusera um belo vestido e enfeites no cabelo. Olhou-se no espelho, desconfortável. Sentia-se uma boboca usando aquilo! Saiu do quarto com sua boneca favorita e foi ao quarto do irmão.
-Li, posso entrar?
-Claro.
A garotinha entrou no quarto, sentou numa poltrona e ficou balançando os pés. O irmão, que estava tentando dar o nó na a gravata, virou-se e a encarou.
-Como estou?
-Tem que arrumar a gravata. Mas você fica melhor com suas roupas normais.
-Eu sei. Mas você está muito bem, parece uma princesa.
-Eu demorei um tempão pra amarrar os laços desse vestido! – disse Cho, emburrada. – Porque temos que usar essas roupas?
-Pergunte ao Sr. Chang. Enquanto nossa mãe se esforça pra nos ensinar a seguir e respeitar as tradições, ele despreza nossos costumes.
-Quando formos donos de tudo não precisaremos seguir ordens dele, não é?
-Claro que não. Pra herdarmos tudo, ele terá que estar morto.
-“e este será o dia em que o céu ficará mais azul. Os pássaros farão um coro de alegria ante o fim da era do Mal”, Mestre Yu.
-Boa citação. Mas essa é uma coisa perigosa de dizer. Não repita isso.
-Tem medo que ele escute?
-Tenho medo do que ele pode fazer a você se escutar.
-Se isso acontecer, ele vai me bater de novo.
-Exato. Não dê motivos, “não acordes o tigre e não serás dilacerado.”, Mestre Wang.
-Ah, como é bom ouvir os meus filhos repetindo as sábias palavras dos monges. – disse Mei Chang. Ela era uma mulher bondosa e submissa muito amada pelos filhos e igualmente desprezada pelo marido. Sofria nas mãos de Ji-Tsu que a maltratava verbal e fisicamente.
Mas apesar disso, não se tornara amarga e parecia suportar bem a triste vida que levava. Sempre tinha um sorriso no rosto ao falar com os filhos. Arrumou a grava ta de Li.
-Mamãe, eu posso colocar uma das minhas roupas?
-Cho, esse vestido é seu.
-Mas eu não gosto dele. – a menina moveu os braços, encenando movimentos de luta – Não dá pra mexer! Prefiro minha calça e túnica de seda!
-Nós vamos tirar uma fotografia, não participar de um torneio de artes marciais. – respondeu Mei, sorrindo ante a inconformidade da filha. – Vamos logo, seu pai deve estar esperando.
-E não devemos irritar o dragão... – disse Li, ao que a irmã riu e a mãe o censurou.
Chegaram ao escritório onde já se encontravam Ji-Tsu e o fotógrafo. Este os instruiu a ficar em volta do pai e pediu para sorrirem. Os jovens ignoraram o pedido; a mãe simplesmente não conseguiu atender, pensava no que faria em algumas horas. Ji-Tsu, por sua vez, nunca sorria, a não ser quando fechava algum negócio.
A foto foi batida, registrando as expressões muito sérias de Li e Cho. Parecia que eles já sabiam o que aconteceria horas depois.
*Fim do Flashback*
A mão da jovem apertou o porta-retrato ao lembrar daquele dia. Todos sempre acharam que Mei Chang suportava bem a vida que levava, mas descobriram que isto não passava nem perto da verdade. Ela foi encontrada morta no templo dedicado ao deus-dragão; a seu lado um pequeno cálice que tinha vestígios de um veneno letal.
Ela pedira ao pai para fazer um pequeno altar em honra da memória da mãe, mas a resposta dele não poderia ter sido mais cruel:
-Eu não cultuo mortos. Se quiser um altar, carregue as pedras você mesma.
A menina, inconformada, passou a noite, na companhia do irmão, empilhando pedras na área do jardim que sua mãe mais gostava. Teria continuado madrugada adentro se a exaustão não a tivesse vencido. Desmaiou nos braços de Li, que ordenou aos criados que terminassem o altar.
Cho pôs o porta-retrato sobre a mesa. Não era hora de lembranças ruins.
-Torturando-se com o passado? – perguntou Li, entrando no escritório.
-Já passou, foi só um momento. – respirou fundo – Cuidou da segurança?
-Miho está checando os últimos detalhes – sentou numa poltrona, descontraído – Uma festa é tudo o que precisamos. Novos contatos, mais dinheiro.
-Ganância, ganância... você já estará morto de velho antes de conseguir gastar o que já tem.
-É por isso que eu espero encontrar uma bela moça pra ser minha esposa. E com tanto dinheiro, poderei dar a ela uma vida de rainha.
-Não vejo você como um homem romântico, mas casamento é uma questão a se considerar. Não está nos meus planos próximos, mas nunca se sabe...
-Com licença, senhores. – disse Miho – Os sistemas de segurança estão checados. E teremos um reforço de pessoal no dia da festa.
-Que bom. A propósito, eu vi que o King completou sua missão – disse Cho exibindo um jornal inglês, cuja manchete noticiava uma morte por envenenamento no presídio Edward IV.
-As férias já podem acabar, então. – disse Li, pegando a varinha – Miho, tem alguma coisa pequena aí?
A japonesa pegou uma algema que estava presa em seu cinto e jogou pra ele.
-Isso serve?
-Serve – Li murmurou um feitiço e apontou para as algemas. Logo depois, as lançou de volta – 5 minutos depois da chegada.
-OK. E se eu não conseguir convencê-lo?
-Acho isso muito improvável. Ele demorou 3 anos pra fazer o que tinha que fazer. Deve estar louco pra sair. – disse Cho.
O par de algemas começou a emitir um brilho azul, indicando que logo seria acionado.
-Você já vai, Miho. – disse Li – Traga-o.
A japonesa assentiu e desapareceu no ar.
-Ai, quantas complicações... Espero que consigamos resultados melhores agora que cuidamos das possíveis testemunhas. – disse Cho.
-Também espero. Bom, se precisar de mim, estarei treinando.
-Eu vou dormir. Hoje foi um dia muito estafante.
Os dois saíram do escritório e seguiram direções opostas. Os criados abaixavam a cabeça respeitosamente quando eles passaram.
Mais alguns dias e a casa estaria cheia de ilustres convidados. Mas o que os dois irmãos não sabiam era que aquela seria a oportunidade perfeita para os agentes britânicos invadirem o palácio.
#Hotel Mai-Tsu Ki, Xangai#
Pansy estava deitada no chão da ante-sala do quarto do hotel, com os pés sobre o sofá. Observava o teto, absolutamente entediada. Sobre a mesa plantas e fotos do Palácio do Sol que estudara exaustivamente procurando um jeito de entrar, mas o lugar era uma fortaleza: muros altos, apenas um portão fortemente vigiado, sistemas de segurança modernos, guardas no jardim... Seria praticamente impossível entrarem sem serem vistos.
-Saco, a gente tem que invadir aquele lugar... – pensou, em voz alta, sentindo o sono se apoderar dela. Relaxou gradativamente e adormeceu, ali mesmo.
Alguns minutos depois, Harry entrou no quarto e surpreendeu-se com a cena.
-Você deve ter analisado isso aqui até não agüentar mais, né? – disso o moreno, colocando uma bolsa com embalagens de comida sobre a mesa. Ergueu-a em seus braços e a levou até a cama. “Ela deve estar exausta, nem se mexeu”.
Colocou-a sobre a cama e a cobriu. A morena se aconchegou entre os lençóis, suspirando e Harry sentiu vontade de juntar-se à ela. Em vez disso, foi tomar banho. Passara o dia todo fora. Aparatara em Pequim, a 1075 km de Xangai à toa. Vencer uma distância dessas não era nada fácil e quando a viagem era à toa, então... Os amigos não tinham descoberto nada de importante. Para não dar o dia como perdido, comprou comida “não-chinesa”. Estava no país há 4 dias e já sentia falta de comida britânica.
Saiu do banho e vestiu o pijama (leia-se camiseta regata e calça de moletom). Voltou ao quarto e acordou Pansy, suavemente.
-Oi. – disse a morena, abrindo um sorriso.
-Boa noite, Bela Adormecida.
-Que horas são?
-9 e 20. Já jantou?
-Não. Dormi sem perceber, nem lembro de ter vindo pra cá.
-Isso porque eu trouxe você. Estava dormindo no chão da sala. – ele foi até a mesa, onde tinha deixado a comida. Ao abrir as embalagens, o aroma se espalhou pelo quarto. Pansy sentou na cama, imediatamente, respirando fundo.
-O que você trouxe?
-Fish and chips. Tipicamente inglês. – disse Harry, entrando no quarto com uma mesinha de café-da-manhã nas mãos.
-Que delícia. – disse a morena, alguns minutos depois, saboreando avidamente o prato.
-Você sabe que o peixe não vai fugir, né? Come mais devagar.
-Impossível. Eu tô faminta e isso tá uma delícia. – Harry deu uma risadinha – O que foi?
-Nada. Você fica engraçada quando tá com fome.
-Você fica engraçado quando tá com frio e eu nunca falava nada.
-Eu não gosto de sentir frio, só isso!
-Você reclama como um velho rabugento! Mas até que eu acho engraçado...
-Claro, você adora rir de mim.
A morena sorriu. O clima entre eles estava muito agradável, mas, de certa forma, superficial. Faltava a paixão, a intensidade de antes. a lembrança do último rompante (ocorrido há 6 dias na casa de Harry) ainda pairava entre eles. Eles não estavam namorando, mas tinham algo maior que só amizade. E mesmo sentindo falta do físico, sabiam que deviam passar pela fase da amizade antes de voltar ao amor. Mas como esse negócio de amizade era difícil! A tensão entre os dois crescia a cada minuto. Logo chegaria ao ponto que nenhum deles resistiria. E aí seria apenas uma questão de iniciativa: quem daria o primeiro passo na direção do outro?
Terminaram de jantar. Pansy foi tomar um banho rápido enquanto Harry arrumava sua “cama”. Em respeito à fase “não-física” pela qual estavam passando, ele dormia num divã enquanto ela ocupava a cama. Quando a morena voltou, trajando uma camisola de seda azul marinho, Harry deixou escapar um ‘Uau!’, mas ela não escutou.
Aconchegaram-se, cada um em sua cama, e adormeceram quase imediatamente.
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